Coluna de opinião-Regis Pereira

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São Paulo: O Desmonte Sistemático de Cotia

A Quinta Baixa de 2025 Expõe a Estratégia Questionável da Atual Gestão

O São Paulo Futebol Clube acaba de confirmar mais uma venda controversa de sua base. Henrique Carmo, atacante de apenas 18 anos, foi negociado com o CSKA Moscou por aproximadamente R$ 32,5 milhões, podendo chegar a R$ 37,9 milhões com bônus. É a quinta venda de um jovem talento de Cotia em 2025 – um número que deveria soar como alarme para qualquer torcedor minimamente consciente do que representa a formação de jogadores para um clube da grandeza tricolor.

A lista de baixas é eloquente por si só: William Gomes vendido ao Porto por R$ 55 milhões no início do ano, Matheus Alves negociado com o próprio CSKA por R$ 37,9 milhões, Lucas Ferreira transferido ao Shakhtar Donetsk por valores próximos aos R$ 63 milhões, Angel cedido ao Strasbourg por cerca de R$ 32 milhões. Agora, Henrique Carmo. Cinco promessas, cinco apostas do futuro transformadas em cifras no balanço financeiro.

O Paradoxo dos R$ 241 Milhões

A gestão de Julio Casares celebra números impressionantes: R$ 241,31 milhões arrecadados em vendas e mecanismos financeiros diversos em 2025. É uma quantia que faria qualquer diretor financeiro sorrir, mas que esconde uma realidade preocupante quando analisada sob a ótica esportiva de longo prazo.

O São Paulo transformou-se em uma máquina de vender talentos antes mesmo de testá-los adequadamente no futebol brasileiro. Henrique Carmo, por exemplo, mal teve oportunidades consistentes no time principal. Sua venda para a Rússia – país que, vale lembrar, enfrenta severas restrições no cenário internacional – levanta questões sobre o real critério utilizado pela diretoria para avaliar propostas.

Cotia: De Celeiro a Balcão

A base de Cotia já foi sinônimo de excelência na formação de jogadores. Kaká, Casemiro, Lucas Moura, Antony – nomes que fizeram história no clube antes de brilhar na Europa. A diferença crucial é que esses atletas tiveram tempo de amadurecer no São Paulo, contribuíram significativamente com títulos e performances memoráveis antes de partirem por valores ainda maiores.

Hoje, observamos uma estratégia completamente diferente: vender cedo, vender barato (em termos relativos ao potencial), vender sem dar oportunidades reais aos garotos. É como se Cotia tivesse se transformado de um celeiro em um simples balcão de negócios, onde talentos são comercializados antes mesmo de florescerem.

A Gestão em Questão

A diretoria atual parece ter encontrado na venda de jovens uma solução fácil para equilibrar as contas, mas a que custo? Enquanto clubes europeus estruturados investem anos desenvolvendo talentos antes de comercializá-los por valores astronômicos, o São Paulo adotou a estratégia oposta: transformar potencial em receita imediata.

Julio Casares e sua equipe podem argumentar sobre a necessidade financeira, sobre as dívidas herdadas, sobre a sustentabilidade do clube. Todos são pontos válidos. O questionamento, contudo, é legítimo: não seria possível conciliar saúde financeira com desenvolvimento esportivo? Não seria mais inteligente dar mais oportunidades aos jovens, aumentar seu valor de mercado através de performances consistentes no time principal?

O Futuro Hipotecado

A venda sistemática de promessas representa mais do que uma estratégia financeira questionável – é a hipoteca do futuro esportivo do clube. Ryan Francisco e Lucca, próximos nomes cotados para possíveis vendas, já vivem sob a sombra da incerteza. Qual o incentivo para um jovem se dedicar integralmente ao São Paulo sabendo que pode ser vendido antes mesmo de ter a chance de vestir a camisa titular em um Morumbis lotado?

O São Paulo de 2025 arrecada mais do que muitos clubes sonham, mas perdeu algo infinitamente mais valioso: a capacidade de sonhar com seus próprios talentos. Em um mundo ideal, Henrique Carmo estaria disputando posição no ataque tricolor, crescendo diante da torcida que o viu nascer como jogador. Na realidade atual, ele embarca para Moscou como mais um número no balanço financeiro.

A Pergunta que Não Quer Calar

Se a atual gestão continuar priorizando o imediatismo financeiro sobre o projeto esportivo de longo prazo, que São Paulo estaremos entregando às próximas gerações? Um clube rico em caixa, mas pobre em sonhos e ídolos próprios?

A resposta, infelizmente, pode estar sendo escrita a cada nova venda de um garoto que nem sequer teve a chance de provar seu valor vestindo a camisa que o formou.

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