terça-feira, 05 de agosto De 2025

Coluna do Régis Pereira |O caso Jack , como o São Paulo sepultou um dos maiores escândalos da sua História!

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O CASO JACK: Como o São Paulo Sepultou um dos Maiores Escândalos de sua História

*Por que um dos casos mais polêmicos da gestão Aidar foi arquivado sem punições, mesmo com seus protagonistas ainda ocupando cargos no clube*

“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro” ( Heródoto)

Dez anos se passaram desde que o São Paulo Futebol Clube assinou um dos contratos mais controversos de sua história. O chamado “Caso Jack” permanece como uma ferida mal cicatrizada na memória tricolor, não apenas pelas irregularidades documentadas, mas principalmente porque seus principais protagonistas não apenas saíram ilesos como continuam ocupando posições de destaque no clube.

**O Fantasma que Assombra o Morumbi**

Em outubro de 2014, sob a presidência de Carlos Miguel Aidar, o São Paulo firmou um acordo com a misteriosa Far East Global, empresa de Hong Kong representada por um norte-americano igualmente enigmático: Jack Banafsheha. O contrato era simples na aparência, mas diabólico nos detalhes: Jack receberia 15% de comissão sobre qualquer acordo de material esportivo que conseguisse intermediar para o clube.

Dois meses depois, o tricolor fecharia o maior contrato de sua história com a Under Armour: R$ 135 milhões por cinco anos. Subitamente, Jack reivindicava R$ 18 milhões – valor que poderia chegar a R$ 28 milhões com juros e correções.

**A Teia de Contradições**

A história ganha contornos kafkianos quando analisamos os bastidores. Julio Casares, então vice-presidente de Comunicação e Marketing, havia garantido a Juvenal Juvêncio em 2013 que conhecia pessoalmente representantes da Under Armour e que não precisaria de intermediários para fechar um negócio. Por que, então, incluir a Far East na negociação?

A resposta pode estar em uma coincidência no mínimo suspeita: Douglas Schwartzmann, que na época ocupava o cargo de diretor de Comunicação (e não de Marketing), era simultaneamente representante no Brasil da Zanetti Group, principal empresa de Jack Banafsheha nos Estados Unidos.

Mais estranho ainda: enquanto Ruy Mauricio Barbosa, que era diretor de Marketing, ficou de fora da assinatura do contrato, Douglas colocou sua rubrica em um documento que nada tinha a ver com sua área de atuação.

**Irregularidades em Cascata**

Uma análise detalhada do contrato, realizada pela jornalista Layla Reis em 2016, revelou uma série de irregularidades que beiram o surreal:

– O endereço da Far East em Hong Kong era inexistente
– O contrato estabelecia prazo de 60 dias para Jack apresentar uma empresa, mas o acordo com a Under Armour foi fechado após esse período
– As cláusulas incluíam valores futuros ilimitados, como premiações por títulos
– Jack poderia ceder seus direitos creditórios para qualquer terceiro mediante simples comunicação

Pelos próprios termos contratuais, o acordo com a Far East deveria ter sido automaticamente rescindido quando expirou o prazo de 60 dias. Por que, então, o São Paulo assumiu uma dívida de um contrato tecnicamente inexistente?

**O Perdão Conveniente**

Em outubro de 2015, em um de seus últimos atos como presidente, Carlos Miguel Aidar registrou o perdão da dívida. Jack, generosamente, desistiu dos R$ 18 milhões através de uma troca de e-mails – método que, curiosamente, contrariava as próprias cláusulas do contrato, que exigiam comunicação formal por correio.

O então presidente interino Leco recebeu as cópias desses e-mails e os entregou para uma comissão de conselheiros investigar o caso. Investigação que, aparentemente, não chegou a lugar algum.

**Os Protagonistas Hoje**

O aspecto mais intrigante do Caso Jack não são suas irregularidades passadas, mas a atual posição de seus protagonistas no clube:

**Julio Casares**, figura central da negociação, hoje ocupa a presidência do São Paulo. O homem que disse não precisar de intermediários para fechar com a Under Armour, mas incluiu Jack na negociação, comanda o destino do tricolor desde 2021.

**Douglas Schwartzmann**, o diretor de Comunicação que assinou um contrato de Marketing enquanto representava no Brasil a empresa do credor, hoje exerce a função de diretor adjunto das categorias de base do clube. Sua permanência em cargo de confiança, mesmo após as revelações sobre seu conflito de interesses, é um dos aspectos mais controversos de todo o episódio.

**O Sepultamento do Escândalo**

Recentemente, em uma reunião do Conselho Deliberativo, o São Paulo oficialmente “sepultou” o Caso Jack. A discussão gerou novos atritos, com o conselheiro Donizetti Gonçalves (Dedé) protocolando denúncia contra Manssur, acusando-o de ter entregado seus dados pessoais à Torcida Independente para que fosse agredido. Manssur negou as acusações e ameaça processar Dedé.

Mesmo com o caso oficialmente encerrado, as tensões no Conselho mostram que o fantasma de Jack ainda assombra o Morumbi.

**Questões que Permanecem sem Resposta**

Dez anos depois, perguntas fundamentais continuam sem resposta:

– Por que Casares incluiu um intermediário que ele mesmo disse ser desnecessário?
– Como Douglas pôde assinar um contrato da área de Marketing sendo diretor de Comunicação?
– Por que o clube assumiu uma dívida de um contrato tecnicamente rescindido?
– Como Jack “perdoou” R$ 18 milhões através de um simples e-mail?

**O Preço do Esquecimento**

O São Paulo conseguiu se livrar do passivo de R$ 18 milhões, mas o preço pode ter sido sua credibilidade institucional. Arquivar o caso sem punições efetivas aos responsáveis estabelece um precedente perigoso: de que irregularidades podem ser perdoadas pelo tempo e pela conveniência.

Enquanto Douglas Schwartzmann continua moldando o futuro do clube nas categorias de base e Julio Casares ocupa a cadeira presidencial, o Caso Jack permanece como um lembrete constrangedor de que, no futebol brasileiro, nem sempre a justiça e a transparência prevalecem.

O São Paulo pode ter sepultado oficialmente o Caso Jack, mas sua lição permanece viva: em um clube onde a política supera a ética, todos pagam o preço – menos aqueles que deveriam prestá-las.

*A torcida tricolor merece conhecer toda a verdade sobre este caso. Afinal, foi com o dinheiro dela que quase se pagaram R$ 18 milhões para um fantasma de Hong Kong.*

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