A Corte Inglesa iniciou nesta quarta-feira (29) as primeiras audiências do processo movido por Felipe Massa contra a Fórmula 1 (F1), a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e o ex-dirigente Bernie Ecclestone. O piloto brasileiro busca reparação financeira e reconhecimento de responsabilidade das entidades pelo escândalo do “Singapuragate”, ocorrido em 2008, ano em que terminou o campeonato como vice-campeão mundial.
As sessões acontecem em Londres, no Reino Unido, sob a condução do juiz Robert Jay, e devem prosseguir até sexta-feira (31). Ao fim desta fase, o magistrado pode decidir pela continuidade ou encerramento do caso, embora o veredito possa ser adiado por algumas semanas.
Processo busca reparação, não alteração do resultado
De acordo com a defesa de Massa, o piloto não pretende alterar o resultado do campeonato de 2008, vencido por Lewis Hamilton. A ação, de 41 páginas, pede indenização de cerca de 64 milhões de libras (aproximadamente R$ 455 milhões) e declarações oficiais sobre falhas cometidas pela FIA durante a investigação do caso.
“O Sr. Massa não está buscando nenhuma alteração no resultado do Campeonato de 2008. Nem há qualquer sugestão, apesar de este processo ter sido amplamente divulgado na imprensa, de que quaisquer terceiros desejam se dirigir ao Tribunal”, afirma um desses trechos.

A defesa alega que houve quebra contratual por parte das entidades, que teriam deixado de agir conforme seus próprios regulamentos após o episódio.
Relembre o escândalo do “Singapuragate”
O “Singapuragate” envolveu uma batida proposital de Nelsinho Piquet no Grande Prêmio de Singapura de 2008, com o objetivo de favorecer seu companheiro de equipe, Fernando Alonso, que acabou vencendo a corrida. O caso foi revelado apenas em 2009, quando o Conselho Mundial de Automobilismo (WMSC) confirmou a manipulação.
Naquele momento, as regras da Fórmula 1 impediam qualquer revisão dos resultados após a cerimônia de premiação da FIA, realizada em dezembro de 2008. No entanto, em 2023, Bernie Ecclestone afirmou publicamente que já sabia da intencionalidade da batida ainda em 2008 — revelação usada como base pela defesa de Massa. Mais tarde, o ex-dirigente afirmou não se lembrar da declaração.
Declarações que Massa quer ver reconhecidas
Além da indenização, Felipe Massa solicita que o tribunal reconheça duas declarações específicas:
- Que a FIA violou seus próprios regulamentos ao não investigar prontamente o acidente de Nelsinho Piquet; 
- Que, se a investigação tivesse ocorrido em tempo hábil, o resultado do GP de Singapura teria sido anulado ou ajustado, o que o tornaria campeão mundial de 2008. 

A Formula One Management (FOM) classificou o pedido do brasileiro como “fútil”, alegando que ele sugere a remoção retroativa de pontos de outros pilotos. A defesa de Massa rebate, afirmando que o objetivo é apenas o reconhecimento moral e financeiro, sem afetar o resultado esportivo.
Audiências e possíveis desfechos
O primeiro dia de audiências ocorreu na terça-feira (28), quando o juiz leu os documentos do processo. A partir desta quarta, as partes começaram a ser ouvidas.
Os réus — FIA, FOM e Ecclestone — pedem que a ação seja extinta ou decidida por sentença sumária, sem a necessidade de julgamento completo. Caso o juiz aceite os argumentos de Massa, o processo seguirá para uma nova etapa, com análise de provas adicionais e profundamento das investigações.
Defesas contestam prazos e contratos
As defesas baseiam seus argumentos em quatro pilares: limitação, contrato, prazo legal e declarações. Segundo os réus, Massa entrou com a ação fora dos prazos previstos pelas leis inglesa e francesa, que determinam o tempo de prescrição a partir do momento em que o autor toma conhecimento dos fatos.
Os advogados de Ecclestone sustentam que o brasileiro poderia ter recorrido em 2009, após a divulgação do relatório do WMSC. Já a defesa de Massa afirma que só em 2023, com a entrevista de Ecclestone, ficou comprovado que a FIA e a F1 sabiam da batida intencional desde 2008 — o que justificaria o novo processo.

Massa também alega que a FIA descumpriu obrigações contratuais ligadas à sua superlicença de piloto, ao não aplicar corretamente o regulamento esportivo. As entidades, por outro lado, negam qualquer irregularidade e afirmam que o brasileiro não sofreu prejuízos diretos com o caso.
O impacto do julgamento
O processo de Felipe Massa é considerado um dos mais relevantes da história recente da Fórmula 1 fora das pistas. A decisão da Corte Inglesa poderá definir não apenas o futuro jurídico do ex-piloto, mas também abrir precedentes sobre responsabilidade institucional e ética esportiva em competições de alto nível.









