Entre conquistas e protestos, o Marrocos vive contraste entre sucesso no futebol e crise social

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O Marrocos vive um momento de contrastes. Dentro de campo, o país acumula feitos inéditos: quarto lugar na Copa do Mundo de 2022, bronze nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, semifinal no Mundial Sub-20 e classificação antecipada para a Copa de 2026. Fora dele, porém, enfrenta ondas de protestos lideradas por jovens, que têm o próprio futebol e os altos gastos públicos como alvos de insatisfação.

As manifestações começaram no fim de setembro e cresceram rapidamente. O estopim foi a morte de oito mulheres em um hospital de Agadir, após falhas no atendimento médico. A tragédia mobilizou milhares de pessoas em cidades como Rabat, Marrakech e Casablanca, resultando em centenas de prisões.

Foto: Gettty Images

Os manifestantes exigem melhorias nos serviços públicos, especialmente saúde e educação, além de mais oportunidades de emprego e combate à corrupção. O país é uma monarquia parlamentarista, e os protestos também cobram do rei Maomé VI a demissão do primeiro-ministro Aziz Akhannouch.

— O regime está sendo demandado, são reivindicações por reformas, como aconteceu na Primavera Árabe (início dos anos 2010). A minha interpretação é que o rei está reagindo, e isso tem reflexos internos e regionais. Maomé VI tem um projeto de longo prazo de modernização, em várias frentes, de inserção internacional — analisa Monique Sochaczewski Goldfeld, professora de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

Gastos com o futebol aumentam o descontentamento

Parte da revolta popular se volta contra os bilionários investimentos destinados à Copa Africana de Nações de 2024 e à Copa do Mundo de 2030, que o país sediará ao lado de Argentina, Paraguai, Uruguai, Espanha e Portugal.

Embora o governo não tenha revelado valores oficiais, a imprensa local estima entre US$ 5 e 6 bilhões (até R$ 33 bilhões) em gastos diretos com os torneios. O montante não inclui obras de infraestrutura, como linhas de trem e rodovias, financiadas paralelamente.

O Marrocos terá seis cidades-sede na Copa de 2030: Agadir, Casablanca, Fez, Marrakech, Rabat e Tânger.

Juventude lidera a mobilização

Os protestos são protagonizados pela Geração Z (nascidos entre 1995 e 2009) e organizados de forma descentralizada. Um dos principais movimentos é o coletivo “Gen Z 212”, referência ao código telefônico do país, que reúne quase 250 mil integrantes no Discord.

— Nossa mensagem é o desejo de uma nova geração que se recusa a permanecer presa em ciclos de corrupção e fracassos. Nós acreditamos que o futuro do Marrocos depende de reconstruir a confiança das pessoas no Estado, ancorada em responsabilização, justiça social e dignidade — declarou o “Gen Z 212”, em carta enviada ao rei Maomé VI.

Foto: Getty Images

Segundo o cientista político Maurício Santoro (Uerj), o movimento segue um padrão global.

— Há muitos pontos em comum com outras manifestações globais de jovens, tanto na forma quanto no conteúdo. São protestos organizados de forma descentralizada e flexível, com uma pauta de demandas por políticas públicas em educação e saúde, e críticos dos investimentos do governo em megaeventos esportivos — comenta o cientista político Maurício Santoro, professor do Departamento do Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Com 38,4 milhões de habitantes, o Marrocos tem metade da população com menos de 30 anos. O desemprego atinge 12,8%, mas chega a 35,8% entre os jovens. Embora o país tenha reduzido a pobreza pela metade nos últimos 20 anos, enfrenta carência de médicos — sete para cada 10 mil habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Rei promete reformas e reação política

A repressão às manifestações foi criticada por partidos de oposição e por entidades como a Associação pelos Direitos Humanos do Marrocos, que denunciaram “violência sistemática” por parte do governo. Em pronunciamento, o rei Maomé VI pediu ao Parlamento para acelerar reformas voltadas à geração de empregos, melhoria dos serviços públicos e redução das desigualdades regionais.

Carlos Augusto
Carlos Augusto
Sou jornalista, pós-graduado em Gestão da Comunicação Digital e Mídias Sociais, com graduação em Jornalismo e formação técnica em Administração. Minha carreira em Comunicação é marcada pelo desenvolvimento de habilidades em pesquisa, apuração de fatos, controle e elaboração de relatórios, além de criação de conteúdo voltado tanto para comunicação externa quanto interna. Ao longo da minha trajetória, atuei no desenvolvimento de pautas e redação de matérias, criação de conteúdo visual e apoio em campanhas de endomarketing. Nessas funções, minha dedicação à precisão e à responsabilidade na transmissão de informações tem sido uma constante.

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