Grande Prêmio caótico em Interlagos teve ultrapassagens, festa e homenagens, mas também foi marcado por desorganização, filas e críticas ao asfalto
O Grande Prêmio de São Paulo pode ter sido tudo, menos normal. Do primeiro dia de atividade dos pilotos na quinta-feira à corrida vencida por Max Verstappen de forma brilhante no domingo, passando ainda pelo adiamento da classificação no sábado, a festa e o caos andaram lado a lado.
Alguns pontos encheram os olhos dos pilotos e do público, mas outros deixaram a desejar. O ge lista o que deu certo e o que deu errado durante os dias da Fórmula 1 em solo brasileiro.
DEU CERTO
O show de Verstappen
A sequência do holandês era ruim: dez corridas sem ganhar e a ameaça de Norris na briga pelo título. A classificação foi ainda pior: punido com a perda de cinco posições após troca no motor, Max caiu no Q2 e teria que largar em 17º na corrida. Mas depois do domingo, isso tudo pareceu só pano de fundo para o espetáculo do tricampeão em Interlagos.
Verstappen pulou para 11º já na primeira volta e ultrapassou Lewis Hamilton no giro seguinte para entrar na zona de pontuação. Deixou mais alguns adversários para trás e se estabeleceu em sexto. Max ficou na pista durante safety car virtual enquanto vários outros pilotos pararam nos boxes. Essa escolha fez com que o piloto da RBR subisse para a segunda posição.
Nesta hora, o competente holandês contou com a sorte: a bandeira vermelha após batida de Colapinto o manteve definitivamente na vice-liderança – e outro safety car deu a oportunidade de se aproximar do líder Esteban Ocon. Na volta 43, o tricampeão foi para cima, tomou a ponta e abriu longa distância para encantar a torcida, vencer e se aproximar muito do tetracampeonato mundial.
Homenagem a Ayrton Senna
Debaixo de chuva, Lewis Hamilton entrou na icônica McLaren MP4/5B e homenageou o ídolo Ayrton Senna em Interlagos. Foram só algumas voltas do piloto britânico, fã declarado do brasileiro. Mas foi mais do que o suficiente para levar o sentimento de nostalgia ao público presente: a torcida gritava o nome de Senna e carregava faixas e balões com as cores da bandeira nacional.
Depois de fazer os espectadores voltarem no tempo ao verem o capacete com as cores brasileiras, o carro vermelho e branco da McLaren e também ouvirem o famoso ronco do motor V10, Hamilton pegou uma bandeira do Brasil e deu mais uma volta por todo o autódromo com ela na mão. Alguns dos fãs chegaram a chorar com o emocionante tributo, e o piloto da Mercedes também se mostrou bastante feliz.
Hamilton na fanzone
Além da homenagem a Senna, Hamilton teve outro momento que marcará quem presenciou: a visita à fanzone de Interlagos – novidade da temporada na etapa de São Paulo. O britânico arrastou a multidão para a área no Kartódromo Ayrton Senna e quebrou o protocolo ao descer do palco após talk show e ser literalmente abraçado pelos brasileiros.
Diante do público, Lewis revelou até que passou a ouvir músicas do Brasil em seu celular e falou sobre a alegria em rever os “compatriotas”. Por fim, arriscou um português: “Eu te amo, galera!”.
Invasão argentina em São Paulo
A torcida argentina invadiu as arquibancadas em São Paulo, mas não era dia de jogo de futebol do Boca Juniors ou River Plate. O alvoroço era para Franco Colapinto, queridinho da torcida e primeiro piloto do país a entrar na Fórmula 1 desde 2001. O jovem não teve um bom fim de semana e causou duas bandeiras vermelhas: uma na classificação e outra na corrida, mas apoio não faltou.
A Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) reportou aumento de 25% no número de voos da Argentina para o Brasil na semana do GP em Interlagos. Guillermo Guille, um dos torcedores argentinos presentes no autódromo, resumiu bem como se dá a idolatria ao piloto da Williams.
– O argentino é apaixonado por todos os esportes. Onde tiver um argentino no esporte, vamos segui-lo. Somos assim – afirmou.
DEU ERRADO
As longas filas e a organização
Os fãs de automobilismo sofreram para entrar em Interlagos no dia da corrida. A classificação foi adiada das 15h do sábado para 7h30 da manhã de domingo por causa da forte chuva, e muitas pessoas tiveram que lidar com atrasos e tumulto logo cedo.
Torcedores relataram confusão nas filas presenciais, furtos, falta de policiamento e espera gigantesca. A fila para o Setor G, um dos mais populares, chegava até a estação Autódromo do trem, a cerca de 750 metros de distância. Muitos fãs tiveram que acordar antes das 3h da manhã e, com a indefinição, partiu do próprio público a ideia de tentar organizar a espera, por conta própria.
Asfalto
A pista de Interlagos foi recapeada pela primeira vez em dez anos para o GP de São Paulo de domingo, mas as mudanças, aliadas à forte chuva, causaram muita reclamação dos pilotos. Até Verstappen fez comentários nada elogiosos após vencer, afirmando que em “alguns lugares não dava nem para andar, porque o carro quicava muito”. Fernando Alonso, da Aston Martin, relatou dores nas costas e disse que só não desistiu em respeito ao trabalho dos mecânicos da equipe.
As reclamações dos pilotos não se resumiram aos dias de chuva. Hamilton já havia se queixado dos “quiques” do carro na sexta-feira, em sessão de treino livre ensolarada – o britânico também relatou as dores no corpo. Depois da classificação para a corrida sprint, também na sexta, Verstappen ressaltou a irregularidade da pista e afirmou que estava “mais difícil para dirigir”.
Condições climáticas
Não é novidade o fato de que a região onde está o circuito de Interlagos possui muitas variações no clima: um dia de sol pode facilmente se transformar em chuva intensa em pouco tempo. Foi o que ocorreu no sábado. Na corrida sprint, realizada pela manhã, zero chuva. Já às 15h, horário previsto para início da classificação, um temporal desabou e impediu a definição do grid de largada naquele momento.
A chuva prosseguiu, e a classificação foi realizada às 7h30 do domingo com pista molhada. Os carros lutavam para ficar no traçado, e o resultado foi caótico: cinco bandeiras vermelhas após colisões. O volume de água até diminuiu no início da corrida, às 12h30, mas o aguaceiro apertou na metade do percurso e exigiu muito dos estrategistas e dos pilotos.
Batidas e confusões
Com tanta chuva, o resultado não poderia ser outro: muit
as trocas de posição e bandeiras vermelhas. Só a classificação foi interrompida cinco vezes por causa de acidentes: Franco Colapinto, Carlos Sainz, Lance Stroll, Fernando Alonso e Alexander Albon bateram. Isso sem falar nas várias escapadas que geraram bandeiras amarelas.
Na corrida, mais confusão: Franco Colapinto colidiu mesmo em baixa velocidade devido a um safety car e gerou bandeira vermelha. Mais tarde, Carlos Sainz também abandonou a prova ao bater e fez o carro de segurança entrar mais uma vez. Por fim, o GP de São Paulo ainda teve um incidente bastante raro: Nico Hulkenberg recebeu a bandeira preta e foi desclassificado da prova após rodar e voltar ao traçado com ajuda externa, o que não é permitido por regulamento.