O GP da Hungria tem tradição em resultados surpreendentes, mas, para a classificação deste sábado, nem mesmo o pole position Charles Leclerc acreditava em uma Ferrari na ponta do grid da corrida de amanhã. O favoritismo era todo da McLaren, mas os líderes do campeonato seguem com boas chances de vitória, com Oscar Piastri em segundo no grid e Lando Norris, em terceiro.
É verdade que a mudança da direção de vento no Q3 foi apontada como um fator “incomum” na briga da pole, e que acabou prejudicando mais a McLaren. Os carros da F1 são muito sensíveis a este tipo de mudança, porque tem muita dependência do arrasto aerodinâmico (downforce)
Mas, pelo que vimos na temporada até aqui e também nos treinos livres de sexta e sábado, a McLaren tem forte ritmo de prova, pois ainda tem como grande diferencial o ótimo gerenciamento de pneus ao longo da corrida, fazendo com que eles trabalhem sempre na temperatura próxima do ideal. A equipe consegue reduzir o desgaste e melhorar a aderência em todas as voltas – os outros times tendem a sofrer com o superaquecimento dos compostos.
Para uma volta lançada, no entanto, a Ferrari mostrou que vem em franca evolução. O time trouxe upgrades em Spa (com uma nova suspensão traseira) e mostrou velocidade na Hungria. Leclerc tem chance de brigar pela vitória justamente por estar saindo na pole em um circuito bem travado, com curvas lentas e de difícil ultrapassagem, e também por não ter nada a perder no campeonato.
Afinal, Norris e Piastri estão focados no duelo interno, em que cada ponto pode garantir um título mundial. Já Leclerc pode ir para o “tudo ou nada”. A vitória viria em ótima hora para a escuderia de Maranello, ainda numa montanha russa de emoções em 2025 – basta ver a forte declaração de Lewis Hamilton sobre o mau desempenho dele hoje na Hungria, após o 12º lugar no grid (“a Ferrari deveria trocar o piloto” – falando dele mesmo…)
Leclerc também pode acabar fazendo um papel importante na briga interna da McLaren – Piastri e Norris devem tentar tudo na largada para ser a melhor McLaren e assim ter a melhor escolha de estratégia para vencer a Ferrari, como já aconteceu algumas vezes neste ano, mas com Max Verstappen – desta vez, o holandês sairá apenas na quarta fila.
E justamente a frente dele estará o outro grande nome deste sábado em Budapeste: Gabriel Bortoleto. O brasileiro levou a Sauber ao Q3 pela terceira vez (Spielberg, Spa e Budapeste) nas últimas quatro corridas e desta vez ainda obteve seu melhor resultado no grid da F1 com o sétimo lugar.
Aqui no circuito de Hungaroring, onde estamos presentes para a cobertura do GP, é impressionante o assédio de fãs e da mídia internacional sobre o brasileiro. E não é para menos: ele começou o ano como o menos requisitado dos estreantes, mas suas performances recentes o colocaram de vez no centro das atenções.
Não por acaso, nossa análise antes da corrida destacava que Bortoleto é, atualmente, o grande nome entre os estreantes de 2025. Isso pode mudar, claro, mas o fato é que sua trajetória tem sido de constante evolução.
O interessante do resultado deste sábado foi que ele veio em um circuito com características bem diferentes dos anteriores. Hungaroring é mais travado e possui retas mais curtas na comparação com as pistas da Bélgica e da Áustria. E o carro da Sauber não começou bem nesta pista.
E aí veio outro grande momento do brasileiro: ele foi decisivo para que o time optasse por quebrar um dos dois “curfews” (regime de “toque de recolher” da FIA) que tem direito em 2025 para “virar o carro do avesso”, trabalhando até meia-noite com mecânicos e engenheiros, para conseguir um ajuste que funcionasse na classificação deste sábado.
Deu certo e a moral de Bortoleto na Sauber aumentou ainda mais – seja por ter entregado uma ótima volta no qualy, seja por liderar o time em busca deste ajuste fino capaz de fazer a Sauber saltar de 19º lugar no grid para o sétimo, seu melhor grid na carreira e o melhor do Brasil desde 2017.
Também é importante destacar o trabalho de Felipe Drugovich nos ajustes da Aston Martin, que também começou a sexta-feira com uma performance abaixo do esperado e, após os ajustes sugeridos pelo brasileiro (que fez o TL1 no lugar de Fernando Alonso) conseguiu colocar seus dois carros no Q3. Este tipo de situação vem em ótima hora para Drugovich, que luta por uma vaga de titular em 2026 e tem o nome muito bem cotado para a nova equipe Cadillac.
Começamos a análise dizendo que o GP da Hungria costuma trazer boas surpresas, mas meu palpite para o pódio será novamente conservador. Vitória de Oscar Piastri, com Lando Norris em segundo e Charles Leclerc completando o pódio em terceiro. Cravar o vencedor não é tarefa fácil, mas, ao observarmos como ficou o grid de largada, a certeza é de que a prova terá boas disputas até o final.