Os idealizadores do projeto “SAFiel” apresentaram nesta terça-feira (28), no auditório do Museu do Futebol, em São Paulo, uma proposta que pretende transformar o Corinthians em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O modelo tem como diferencial permitir que torcedores se tornem acionistas, participando da gestão do clube e das principais decisões administrativas.
Durante o evento, que contou com a presença de convidados e jornalistas, os criadores do projeto reconheceram as dificuldades políticas enfrentadas dentro do clube, principalmente pela resistência do Conselho Deliberativo, que em sua maioria se mostra contrário à mudança de formato de gestão.
O presidente Osmar Stabile, que havia se reunido com os idealizadores em setembro, não compareceu à cerimônia. A ausência também se estendeu ao presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, o que levou os responsáveis pela proposta a realizarem uma entrega simbólica do documento a conselheiros e associados.

Inicialmente, o grupo pretendia protocolar o projeto no Parque São Jorge ainda na tarde de terça-feira, mas optou por enviar o material por e-mail, já que Stabile estava com a agenda cheia e Tuma Júnior encontrava-se fora do clube. A expectativa é de que uma reunião presencial aconteça na próxima semana.
Resistência interna e diálogo
Um dos idealizadores, o empresário Carlos Teixeira, admitiu que o grupo encontra resistência dentro do Corinthians, mas reforçou que o objetivo é manter o diálogo aberto com dirigentes e conselheiros.
— Não é falta de tentativa do nosso lado em construir pontes. A gente ainda não construiu as pontes necessárias, apesar de que muitas pessoas com quem a gente fala no Parque São Jorge gostam do projeto, mas ainda têm dificuldade de se posicionar de forma mais contundente a favor dele. Não cabe a nós queimarmos as pontes. A gente vai continuar insistindo.
Outro integrante do movimento, Maurício Chamati, avaliou que, embora o caminho seja longo, o projeto vem conquistando apoio gradualmente.
— Quando a gente começou esse projeto, diria que é 99% impossível e hoje eu diria que é 50%, 45%, 40% possível. Tem que seguir caminhando. É um trabalho que nem a gente enxerga, mas é um trabalho de movimentar, obter adesão da torcida dos conselheiros, apresentando e explicando. É um trabalho de formiga.
Estrutura da SAFiel
O projeto prevê a criação da empresa “Invasão Fiel S/A”, responsável por todas as operações do futebol profissional masculino, feminino e das categorias de base do Corinthians. O clube social ficaria separado, voltando suas atividades às áreas esportivas e sociais.
A Invasão Fiel S/A teria duas classes de ações:
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Classe A, voltada a torcedores investidores — obrigatoriamente sócios ou participantes do programa Fiel Torcedor —, com direito a voto;
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Classe B, destinada a investidores institucionais, sem direito a voto.
Para evitar a concentração de poder, nenhum acionista poderia exercer mais de 1,8% dos votos, mesmo que sua participação financeira fosse superior.
Captação de recursos e dívidas
A proposta estima captar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2,5 bilhões, valores que seriam utilizados para sanar as dívidas do clube, modernizar o CT, construir um centro de treinamento para as categorias de base, reforçar o elenco e melhorar a governança e a infraestrutura.
O Corinthians possui atualmente uma dívida estimada em R$ 2,7 bilhões, segundo o último balancete divulgado. Os idealizadores acreditam que a SAFiel permitiria reestruturar as finanças e garantir a sustentabilidade do clube.
— Com esse recurso, a gente vai pagar toda a dívida do Corinthians, respaldar financeiramente o clube social e ter dinheiro para fazer novos investimentos, melhorar a infraestrutura e contratar atletas, despontando na linha de frente — disse Eduardo Salusse.
Nos primeiros cinco anos, o projeto prevê que não haverá distribuição de dividendos aos acionistas, nem a possibilidade de venda das ações. O lucro seria reinvestido integralmente no futebol.
— Nesse período, a gente imagina que o retorno será praticamente imediato e consegue pegar todo o resultado positivo e reinvestir, uma, duas, três, quatro, cinco vezes, para que, daqui a cinco anos, o clube esteja absolutamente fortalecido.
— Qual seria o interesse do investidor? O interesse do investidor é na própria valorização das ações. Elas serão valorizadas na medida em que o clube crescer, sanear dívidas e tiver com condições de seguir adiante, sem necessariamente receber dividendos.
Governança e gestão profissional
O modelo da SAFiel propõe a criação de um Comitê de Governança e de conselhos administrativo, fiscal e cultural, compostos por gestores independentes e representantes da torcida, de torcidas organizadas e do clube social.
A gestão seria conduzida por executivos profissionais, contratados e avaliados com base em metas e desempenho.
— A SAFiel é um projeto construído a várias mãos. É real e nasce com um propósito claro: ajudar o Corinthians a encontrar seu caminho sem perder com isso a alma popular que o torna único. Nós, os idealizadores, temos apenas um propósito: ajudar o Corinthians. Somos apenas corintianos. Não temos nenhum interesse econômico, político ou de cargos na SAFiel — declarou Carlos Teixeira no evento.












