Quatro anos depois de viver um dos momentos mais dolorosos da carreira, Andreas Pereira chega a Lima completamente transformado. O meio-campista, que em 2021 escorregou e acabou entregando o gol que deu ao Palmeiras o título da Libertadores sobre o Flamengo, volta ao mesmo palco emocional agora vestindo a camisa alviverde — e como peça-chave do time. A decisão deste sábado, às 18h, marca também seus exatos três meses no clube.
A lembrança do lance decisivo o perseguiu por muito tempo. Andreas contou que sonhava com a jogada, duvidava de si mesmo e viveu “um inferno” após o erro, chegando a precisar de carro blindado para circular no Rio de Janeiro. Ao fim da temporada, tornou-se o principal alvo de críticas e chegou a pedir desculpas publicamente. Incentivado pelo pai, Marcos, voltou a treinar nas férias para recuperar a confiança, mas bastava chegar em casa para o episódio voltar à mente.

Foi então que, em março de 2022, além do suporte familiar e do próprio Flamengo, Andreas buscou ajuda profissional. Passou a trabalhar com o coach mental Lulinha Tavares, especialista em psicologia esportiva e neurociência das emoções. Foram dois anos de atendimentos domiciliares, do período no Fla ao início no Fulham, na Inglaterra. O processo incluiu técnicas de respiração, autorregulação emocional e exemplos de outros atletas que superaram quedas duras, como Kaká, David Beckham e Usain Bolt — este último, lembrado pela forma como lidou com a desclassificação nos 100m no Mundial de 2011.
Segundo Lulinha, o que travava Andreas não era o medo de errar, mas o temor das consequências do erro. A retomada da consciência de que “um lance não define um atleta” foi o ponto de virada.
Essa mudança fica evidente na postura do jogador hoje. Em sua apresentação no Palmeiras, afirmou que “o passado ficou para trás” e destacou a vontade de viver uma nova história. Embora tenha manifestado diversas vezes o desejo de retornar ao Brasil para defender o Flamengo, a decisão de deixar o Fulham colocou o Palmeiras como destino ideal: estrutura sólida, calendário competitivo e maior visibilidade para voltar à seleção brasileira.
O processo de convencimento do clube paulista também pesou. Andreas se encantou com o modo como foi tratado na negociação: a ligação de Abel Ferreira explicando onde ele se encaixaria no time, a conversa do técnico com Marco Silva, seu treinador no Fulham, e a clareza do projeto. Na época, o Fulham também conversava com o Olympique de Marselha e havia interesse do Zenit, mas o desejo do jogador foi determinante.
Desde agosto, Andreas se tornou um dos motores do meio-campo palmeirense, superando os 10km percorridos por jogo e recebendo elogios constantes de Abel pela inteligência tática e tomada de decisão.
Agora, quatro anos depois do erro que o marcou, Andreas chega novamente a uma final de Libertadores para tentar escrever um capítulo completamente diferente — desta vez, como protagonista do Palmeiras.












