O Real Madrid deu início a um processo que pode representar a maior mudança institucional de sua história. Neste domingo, durante a assembleia anual realizada em Valdebebas, o presidente Florentino Pérez apresentou aos sócios a proposta de reformulação do modelo de propriedade para permitir a entrada de um investidor externo — algo inédito desde a fundação do clube, em 1902.
A diretoria sugere a criação de uma empresa subsidiária que teria um acionista minoritário, limitado a cerca de 5% das ações. Mesmo com o aporte, o controle permaneceria integralmente nas mãos dos quase 100 mil sócios, preservando a estrutura associativa que caracteriza o clube há mais de um século.

Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, em discurso na Assembleia dos Sócios —
Pérez afirmou que o Real Madrid passou o último ano avaliando alternativas para ampliar seu valor de mercado sem abrir mão de sua identidade. Ele descartou a possibilidade de abrir capital na bolsa e destacou que qualquer investidor precisará defender os valores do clube e atuar como proteção contra “influências externas”. Para o presidente, a medida busca fortalecer a posição institucional do Real Madrid no cenário global.
A decisão final dependerá de uma assembleia extraordinária, que reunirá cerca de 2 mil sócios compromissários. Eles votarão se o projeto deve ser submetido a referendo com todos os sócios maiores de 18 anos. Apenas com a aprovação dessa etapa o novo modelo poderá avançar. Mesmo assim, Pérez garantiu que o Real Madrid “seguirá pertencendo aos seus sócios”.
Durante sua fala, o presidente também aproveitou para criticar adversários políticos e esportivos. Ele acusou Javier Tebas, presidente de LaLiga, de atuar “de maneira clandestina” para pressionar por mudanças legislativas que, segundo ele, favoreceriam a liga e afetariam diretamente as receitas do Real Madrid. Pérez citou ainda divergências com a UEFA, árbitros espanhóis e o Barcelona, reforçando que a alteração estrutural pode servir como proteção institucional.
O modelo sugerido difere da conversão em Sociedade Anônima Desportiva, comum entre clubes espanhóis. A proposta prevê que cada sócio possua uma ação com valor monetário e possibilidade de transferência, mas restrita a filhos ou netos — mecanismo que ainda será detalhado.
Fontes próximas ao projeto indicam que o investidor minoritário teria direito a dividendos proporcionais ao desempenho financeiro do clube, mas não participaria das decisões. Os sócios manteriam o poder de eleger o presidente e aprovar mudanças no estatuto, porém não receberiam dividendos. Pérez garantiu que mais explicações serão fornecidas na assembleia extraordinária e pediu cautela para evitar interpretações equivocadas divulgadas pela imprensa.












