Foi o Botafogo, com sua qualidade, que deixou o Tricolor tão acanhado – até Zubeldía superar Artur Jorge no segundo tempo com as alterações
O Botafogo é um time melhor do que o São Paulo. E o São Paulo foi à casa do Botafogo, não sofreu gols, assegurou o empate e agora tem chances concretas de eliminar o adversário – aquele que é um time melhor – na Libertadores da América. O jogo apresentado pelos tricolores nesta quarta-feira, no 0 a 0 no estádio Nilton Santos, pode não ter sido a coisa mais bonita do mundo. Mas, na prática, deu certo.
O futebol tem dessas. No fim do primeiro tempo, a tentação era criticar a estratégia de Luís Zubeldía, tamanha a superioridade do Botafogo. No fim do segundo tempo, era preciso elogiar o treinador: o São Paulo, com uma mudança nas mesmas peças que tinham iniciado o jogo, havia conseguido controlar o rival nos 45 minutos finais – e ainda teve a melhor chance da etapa, uma conclusão de Calleri de frente para o gol.
“Isso é Copa Libertadores”, resumiu Zubeldía no fim do jogo, em uma frase que parece carregar a lembrança de que esta é uma competição de sobrevivência. Certamente não estava nos planos uma atuação tão acanhada no primeiro tempo. Foi o Botafogo, com sua qualidade, que enclausurou o São Paulo – não uma decisão deliberada dos tricolores. Mas o time visitante sobreviveu. E, a partir daí, ganhou segurança para mudar de postura no segundo tempo.
Zubeldía superou Artur Jorge em estratégia na etapa final. O técnico do Botafogo não conseguiu reagir às mudanças no São Paulo – com Alan Franco na lateral direita, Rafinha avançado, William Gomes mais liberado pela esquerda (e depois com a entrada de jogadores que estavam no banco, sobretudo Wellington Rato).
Embora Luiz Henrique não fizesse seu melhor jogo, achei contentável a troca por Tiquinho Soares. O que o Botafogo tem de melhor é a fluidez de seu meio – o jeito como volantes se comunicam com meias, a maneira como meias sabem dosar posse e verticalidade, a forma como o time chega em bloco à defesa rival, geralmente com três ou quatro jogadores dentro da área. Isso se perdeu com a troca. O Botafogo ficou um time mais travado, e o jogo caminhou para o 0 a 0.
Daqui a uma semana, o Botafogo continuará sendo um time melhor do que o São Paulo, e Zubeldía ainda precisará quebrar a cabeça para encontrar uma forma de neutralizá-lo – sem sofrer todo aquele sufoco do primeiro tempo. Mas a disparidade entre as equipes terá como atenuante o enorme impacto do fator local, com o Morumbis pulsando incentivo ao time tricolor. Será um jogaço.