Um relatório elaborado pela comissão financeira do Conselho Deliberativo do São Paulo, composta por cinco membros, aponta um cenário preocupante para as finanças do clube. O documento, apresentado em reunião no dia 14 de agosto, analisa as contas do primeiro semestre de 2025 e alerta para a possibilidade de aumento da dívida e fechamento do ano com déficit.
De acordo com o relatório, o orçamento aprovado em 2024 previa superávit de R$ 44,8 milhões, mas a projeção atual indica um déficit de R$ 48,6 milhões, mesmo com receitas de transferências de jogadores acima do esperado. Sem as vendas, o rombo poderia chegar a R$ 118,6 milhões. Nesse cenário, a dívida do clube, que era de R$ 968,25 milhões no ano passado, se aproximaria da marca de R$ 1 bilhão.
O principal motivo para a piora financeira é o crescimento contínuo das despesas, que aumentaram cerca de 20% acima das receitas. Apenas no primeiro semestre, os gastos chegaram a R$ 457,93 milhões, superando em R$ 54 milhões o que havia sido previsto (R$ 403,28 milhões). Entre os exemplos citados está o Morumbis, que duplicou seus custos operacionais em relação ao mesmo período anterior.

Apesar disso, as receitas também ficaram acima do projetado. O São Paulo esperava arrecadar R$ 357 milhões nos primeiros seis meses, mas alcançou R$ 424 milhões, R$ 66 milhões além da previsão. O bom desempenho se deve principalmente às negociações de atletas, que renderam R$ 107,28 milhões, contra os R$ 44,21 milhões inicialmente estimados. As vendas de William Gomes e Ângelo, além de valores obtidos pelo mecanismo de solidariedade da Fifa, foram decisivas nesse resultado.
Por outro lado, outros setores estouraram o orçamento. O clube social gastou 15% a mais do que o previsto, enquanto o futebol de base superou em 25% as despesas projetadas. Já a folha salarial apresentou média de R$ 28,3 milhões por mês, o que fez o clube ultrapassar em 22% o limite estabelecido para os últimos três meses do semestre.
Mesmo com receitas maiores, o São Paulo encerrou a primeira metade do ano com déficit de R$ 31,8 milhões. Embora o valor seja menor que a previsão inicial de R$ 45,8 milhões negativos, ainda preocupa o Conselho Deliberativo.
A comissão financeira apresentou possíveis soluções para amenizar a crise: recuperação judicial ou extrajudicial, reestruturação patrimonial e revisão das dívidas esportivas. Como medida imediata, a recomendação é arrecadar mais R$ 120 milhões em vendas de jogadores até o fim do ano. Parte dessa meta já foi atingida com as saídas de Lucas Ferreira e Matheus Alves, que renderam aproximadamente R$ 75 milhões no segundo semestre.
Outro caminho avaliado pelo clube é a criação de um fundo de investimento para Cotia, em parceria com a Galapagos. A proposta, já aprovada pelo Conselho de Administração, prevê arrecadação mínima de R$ 250 milhões. Desse valor, R$ 50 milhões seriam destinados ao pagamento de dívidas e o restante aplicado exclusivamente nas categorias de base. Os recursos seriam liberados em três parcelas: R$ 100 milhões de imediato, R$ 75 milhões em uma segunda etapa e R$ 25 milhões em uma terceira.
O projeto ainda depende da aprovação do Conselho Deliberativo. Caso avance, pode ajudar a reduzir a pressão sobre as finanças do clube e, ao mesmo tempo, garantir novos investimentos na formação de atletas, vista como um dos pilares para o futuro do São Paulo.