segunda-feira, 11 de agosto De 2025

SAO PAULO FC | A ILUSÃO DAS MULTAS BILIONÁRIAS| COLUNA DO REGIS PEREIRA

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A ILUSÃO DAS MULTAS BILIONÁRIAS

Por Regis Pereira – Colunista Esportivo

O São Paulo vive um paradoxo cruel: quanto mais “protege” suas joias da base com cláusulas astronômicas, mais dinheiro deixa de ganhar. A atual gestão criou um sistema perverso onde a “blindagem” virou armadilha financeira, e o torcedor tricolor precisa entender: estamos assistindo à desvalorização sistemática do nosso maior patrimônio.

Os números não mentem. Enquanto a diretoria se vangloria de renovações com multas de centenas de milhões de euros, a realidade do caixa conta outra história. O clube está literalmente queimando dinheiro em nome de uma proteção que não protege.

A pesquisa dos principais casos dos últimos anos revela um padrão devastador: Antony foi vendido pelo Ajax ao Manchester United por 100 milhões de euros, mas o São Paulo recebeu apenas €12,8 milhões (R$ 67 milhões) quando poderia ter negociado diretamente por valores muito superiores. David Neres custou 15,3 milhões de euros ao Benfica, mas o São Paulo lucrou apenas R$ 2 milhões por mecanismo de solidariedade quando o jogador passou por várias transferências milionárias na Europa.

OS CASOS QUE EXPÕEM A FALÊNCIA DO MODELO

WILLIAM GOMES: O Símbolo do Fracasso Estratégico

A multa rescisória do jovem atacante de 18 anos é no valor de 120 milhões de euros, (cerca de R$ 735 milhões). Esse foi o número que a diretoria bradou aos quatro ventos após a renovação do garoto. A mensagem subliminar era clara: “mexer com nossas joias sai caro”.

A realidade? A principal venda do clube em 2024 foi a do atacante William Gomes, vendido junto ao Porto, de Portugal, por R$ 61,4 milhões. Façam as contas: uma multa de R$ 735 milhões virou uma venda de R$ 61,4 milhões. O São Paulo deixou de receber R$ 673,6 milhões* que existiam teoricamente no papel.

E não venham com o discurso de que “o mercado não paga isso”. Se não paga, por que colocar? A cláusula astronômica serviu apenas para criar uma ilusão de proteção enquanto o clube aceitava migalhas.

LUCAS FERREIRA: A Repetição do Erro

O caso mais recente expõe a teimosia da gestão. O São Paulo está próximo de vender o atacante Lucas Ferreira, de 19 anos, para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por 10 milhões de euros (cerca de R$ 63 milhões).

Lucas também teve sua renovação com elevação de multa rescisória – os valores exatos não foram divulgados uniformemente, mas seguindo o padrão da diretoria, certamente estava na casa das dezenas de milhões de euros. O resultado prático? Uma venda por € 10 milhões, bem abaixo das expectativas criadas artificialmente.

OS CASOS HISTÓRICOS QUE COMPROVAM O PREJUÍZO

ANTHONY: O Precedente Ignorado

Antony teve sua multa rescisória fixada em 50 milhões de euros (R$ 210 milhões na cotação de 2019) quando o São Paulo renovou seu contrato. O atacante foi vendido ao Ajax em janeiro de 2017 por apenas € 16 milhões. Mais tarde, o Ajax vendeu Antony ao Manchester United por 100 milhões de euros, mas o São Paulo recebeu apenas 20% do negócio menos 16 milhões de euros, totalizando €12,8 milhões (R$ 67 milhões).

Gap de Antony: R$ 143 milhões deixaram de entrar diretamente no caixa são-paulino.

DAVID NERES: A Oportunidade Perdida

David Neres saiu do São Paulo em 2017 para o Ajax por valores modestos. Quando foi vendido pelo Shakhtar ao Benfica, custou 15,3 milhões de euros e teve multa rescisória estipulada em 100 milhões de euros no Benfica. O São Paulo teve direito a apenas 3% da taxa de transferência, lucr ando pouco mais de R$ 2 milhões quando o Ajax vendeu ao Shakhtar.

Perda estimada: Se David Neres tivesse uma multa adequada no São Paulo, o clube poderia ter arrecadado entre R$ 50-100 milhões a mais em sua saída.

ÂNGELO: O Caso Mais Chocante e Recente

O lateral-direito Ângelo, de apenas 16 anos, é o exemplo mais brutal da política desastrosa da gestão atual. Em janeiro de 2025, o clube assinou seu primeiro contrato profissional com multa rescisória de €60 milhões (R$ 375,40 milhões).

Cinco meses depois, em junho, o garoto foi vendido ao Strasbourg (grupo Chelsea) por apenas €7 milhões (R$ 44,8 milhões). Uma desvalorização de 88% em cinco meses.

Este é o retrato mais perfeito da incompetência: por que colocar uma multa de R$ 375 milhões se você vende por R$ 45 milhões? O São Paulo literalmente jogou R$ 330,6 milhões no lixo.

Gap de Ângelo: R$ 330,6 milhões que evaporaram em cinco meses de “gestão”.

O ROMBO REAL: Tabela dos Valores Perdidos

Baseando-nos nos casos verificáveis e nas informações disponíveis:

*William Gomes*
– *Multa Rescisória Oficial*: €120 milhões (R$ 735 milhões)
– *Valor da Venda*: €10 milhões (R$ 61,4 milhões)
– *PREJUÍZO*: R$ 673,6 milhões deixaram de entrar no caixa

*Lucas Ferreira*
– *Valor da Negociação*: €10 milhões (R$ 63 milhões)
– *Multa Pós-Renovação*: Não divulgada precisamente, mas elevada
– *Perda Estimada*: Entre R$ 200-400 milhões (baseado no padrão de “blindagens”)

*Antony (Histórico)*
– *Multa Rescisória*: €50 milhões (R$ 210 milhões)
– *Venda ao Ajax*: €16 milhões (2017)
– *São Paulo recebeu*: Apenas €12,8 milhões quando Ajax vendeu ao Manchester United
– *PREJUÍZO*: R$ 143 milhões deixaram de entrar diretamente

*David Neres (Histórico)*
– *Saída do São Paulo*: Valores modestos em 2017
– *Vendas posteriores*: Ajax-Shakhtar (€12 milhões), Shakhtar-Benfica (€15,3 milhões)
– *São Paulo recebeu*: Apenas R$ 2 milhões por mecanismo de solidariedade
– *PERDA ESTIMADA*: R$ 50-100 milhões que poderiam ter entrado com multa adequada

*Morato*
– *Multa Rescisória*: €50 milhões (R$ 213 milhões)
– *Venda ao Benfica*: €6 milhões (R$ 27 milhões) por 85% dos direitos
– *PREJUÍZO*: R$ 186 milhões deixaram de entrar no caixa

*Tuta (Histórico)*
– *Saída do São Paulo*: 2019, valores módicos para clube alemão
– *Venda atual*: Al-Duhail pagou R$ 96 milhões
– *São Paulo recebe*: Apenas R$ 3 milhões por solidariedade FIFA
– *PERDA ESTIMADA*: R$ 50 milhões que poderiam ter entrado com negociação direta adequada

*Matheus Alves*
– *Venda ao CSKA Moscou*: €6 milhões
– *Observação*: Negócio dentro de parâmetros de mercado, mas demonstra padrão de valores baixos

*Ângelo (Caso Atual – 2025)*
– *Multa Rescisória Oficial*: €60 milhões (R$ 375,40 milhões)
– *Venda ao Strasbourg/Chelsea*: €7 milhões (R$ 44,8 milhões)
– *PREJUÍZO COMPROVADO*: R$ 330,6 milhões deixaram de entrar no caixa
– *Observação*: São Paulo manteve 12,5% dos direitos econômicos

A ESTRATÉGIA EQUIVOCADA EXPLICADA

1. *Multas Irreais Criam Expectativas Falsas*
Quando você coloca uma multa de €120 milhões, está sinalizando ao mercado que o jogador vale isso. Quando vende por €10 milhões, está admitindo que errou a precificação em mais de 1000%. *Isso não é proteção, é incompetência*.

2. *O Timing Perdido*
Jovens talentos têm janelas curtas de valorização máxima. Trava-se a negociação por valores impossíveis e perde-se o momento ideal de venda. O resultado? Aceita-se qualquer proposta quando o caixa aperta.

3. *Comparação com Modelos Eficientes*
Porto, Ajax, Benfica trabalham com percentuais de revenda,bônus por metas e cláusulas escalonadas. *O São Paulo insiste no modelo arcaico de “multa-teto” que só funciona no papel*.

O CUSTO REAL

Enquanto a gestão brinca de “blindagem”, o São Paulo fechou 2024 com um déficit de R$ 287 milhões, enquanto a dívida total ficou em R$ 968,2 milhões. *Cada real deixado na mesa por essas vendas mal feitas é dinheiro que falta para contratar reforços, quitar dívidas ou investir na própria base*.

Com mais de R$ 1,4 bilhão comprovadamente perdidos em apenas 6 casos principais, o torcedor precisa entender: não é questão de “valorizar o patrimônio”. É questão de *não queimar dinheiro por teimosia gerencial*.

*Contexto Devastador:*
– *Déficit do clube em 2024*: R$ 287 milhões
– *Dívida total*: R$ 968,2 milhões
– *Dinheiro perdido com multas fantasiosas*: Mais de R$ 1,4 bilhão
– *Conclusão*: O São Paulo perdeu com essa política equivocada mais de 1,5 vezes toda sua dívida atual.

O QUE PRECISA MUDAR JÁ

*1. Acabar com as Cláusulas Fantasiosas*
Multas devem refletir valor de mercado real, não sonhos de diretor. Se nenhum clube do mundo paga €120 milhões por um garoto de 18 anos, por que colocar isso no contrato?

*2. Adotar Modelos Modernos*
Percentuais de revenda de 20-30%, bônus por gols, títulos e convocações. Cláusulas escalonadas que crescem conforme performance. *Parar de viver no século passado*.

*3. Transparência Total*
Divulgar os valores reais das cláusulas e o quanto efetivamente entra no caixa. O torcedor tem direito de saber se está sendo enganado com números inflados.

*4. Timing de Mercado*
Vender no pico de valorização, não quando o desespero bater. Planejamento financeiro não se faz na base do improviso.

CONCLUSÃO: O São Paulo Está Queimando Dinheiro

Os números são cristalinos: a política atual de “blindagem” custou ao clube mais de *R$ 600 milhões só no caso William Gomes*. Se somarmos os outros casos e as perspectivas futuras, estamos falando de mais de R$ 1,4 bilhão em dinheiro que existe apenas no papel.

Não é coincidência que o clube tenha um déficit de R$ 287 milhões e uma dívida próxima de R$ 1 bilhão. Quando você sistematicamente vende por 10-15% do valor que coloca no contrato, *você não está protegendo patrimônio, está destruindo valor*.

O caso mais recente do lateral Ângelo é o mais chocante: multa de R$ 375 milhões em janeiro, venda por R$ 45 milhões em junho. *Uma desvalorização de 88% em cinco meses*. Este é o retrato da incompetência administrativa mais absoluta que o futebol brasileiro já viu.

O torcedor tricolor merece gestores que entendam que futebol é negócio, e negócio se faz com planejamento, não com fantasias. *É hora de cobrar mudanças reais, antes que a próxima “blindagem” nos custe mais centenas de milhões*.

A pergunta que não quer calar: se as cláusulas milionárias não geram receitas milionárias, para que elas servem? *Para enganar torcedor ou para alimentar ego de dirigente?*

O São Paulo merece mais. O torcedor merece a verdade. E a verdade dói: estamos assistindo à gestão mais incompetente da história recente do clube no que se refere à comercialização de atletas.

 

Os dados apresentados foram baseados em informações públicas divulgadas pelos veículos de comunicação especializados e pelos próprios clubes envolvidos nas negociações.

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