Não era apenas mais uma decisão. Corinthians e Vasco se encontraram no Maracanã carregando muito mais do que 90 minutos pela frente. Era um jogo pesado de história, mágoas e feridas abertas em duas torcidas gigantes.

De um lado, o Vasco. Um clube que não levanta um título de expressão desde 2011. Um Vasco que entrou em campo querendo revanche. Revanche da final do Mundial de 2000, no mesmo Maracanã. Revanche de uma Libertadores em que o clube carioca foi personagem direto em um capítulo decisivo da história corintiana. Um Vasco que via naquela noite a chance de se reconectar com sua grandeza.

Do outro lado, um Corinthians machucado. O último título de expressão havia sido em 2017. Desde então, só dores. Em 2018, um vice amargo na própria Copa do Brasil contra o Cruzeiro, marcado por um gol de Pedrinho mal anulado. Em 2022, no mesmo Maracanã, outra ferida aberta: vice para o Flamengo, nos pênaltis. Em 2023, eliminação nas semifinais para o São Paulo. Em 2024, mais uma queda nas semis, novamente diante do Flamengo. Tudo isso ecoava na cabeça da torcida.

E havia ainda o peso do caos fora de campo.

Até a 30ª rodada do Brasileirão de 2024, o Corinthians tinha apenas 0,04% de chance de sequer disputar a Copa do Brasil. Já em 2025, o clube viveu um ano de ruptura: impeachment de presidente, dirigentes brigando internamente pelo poder, crise institucional escancarada. Um ano de transfer ban, que obrigou o Corinthians a sobreviver com a base. Um clube desacreditado, atacado por dentro, pressionado por fora.

Mesmo assim, o time respondeu.

Passou pelo Novorizontino. Eliminou o Palmeiras quando todos diziam que já estava fora. Superou o Athletico-PR. Derrubou um Cruzeiro soberbo, que se julgava favorito. E chegou à final contra um Vasco que, após um primeiro jogo apático na Neo Química Arena, já se sentia campeão jogando em casa.

Mas o Corinthians entrou no Maracanã para jogar uma final. Para buscar a taça. Para transformar dor em resposta.


O jogo

Após 15 minutos estudados, com o Vasco tendo mais posse, a primeira chegada foi do Corinthians. Yuri Alberto recebeu de Matheuzinho, finalizou da entrada da área e mandou na rede — pelo lado de fora.

Na segunda, caçapa. Três minutos depois, não perdoou. Em jogada que começou no campo de defesa, Raniele inverteu da esquerda para a direita e encontrou Matheuzinho livre. O lateral cruzou novamente, Yuri Alberto dominou e tocou na saída de Léo Jardim. Corinthians na frente.

E quase veio o segundo. Um erro do lateral vascaíno virou chance clara. José Martínez deu um voleio que virou lançamento para Yuri, que saiu cara a cara, tentou encobrir e isolou. Era noite dele.

O Vasco sentiu o gol e sumiu por alguns minutos, até que Rayan apareceu. A joia vascaína passou por Matheus Bidu e Gustavo Henrique, cruzou rasteiro e quase encontrou Coutinho. No lance seguinte, o empate veio. Raniele saiu jogando errado, Andrés Gómez fintou André Ramalho e cruzou na cabeça de Nuno Moreira. Maycon não subiu. Tudo igual.

Na volta do intervalo, o jogo mudou de cara. O Corinthians voltou mais ligado, mais agressivo. Aos 17 minutos, uma jogada coletiva que simbolizou a noite. Breno Bidon girou com classe no meio, tocou para Matheuzinho, que serviu Yuri Alberto. O camisa 9 tirou de Léo Jardim e deixou para Memphis Depay empurrar para o gol vazio. Um gol de final. Um gol de time.

Foto tirada do Instagram do @corinthians

O Vasco tentou o empate até o fim. E já nos acréscimos, veio o ato final. Rayan soltou uma bomba da entrada da área. Hugo Souza voou no canto direito e espalmou. Defesa de título. Defesa de tetra.

Explosão, desabafo e resposta

No apito final, a explosão. O Corinthians era tetracampeão da Copa do Brasil. Em um ano conturbado, caótico, o clube respondeu onde sempre soube responder: dentro de campo.

Na comemoração, Memphis Depay fez mais do que celebrar. Desabafou.

“As pessoas na diretoria precisam acordar. Eu sei exatamente de quem eu falo. Só deixem este clube. Este clube precisa crescer, lutar por Libertadores e Brasileirão todo ano, porque os torcedores merecem isso.”

Foi mais do que um título. Foi um recado. Um grito. Uma resposta.

O Corinthians sofreu fora de campo. Mas respondeu dentro dele. Como sempre. Como só o Corinthians sabe fazer.